A senhora Lucimar, muito nova enviuvou
Ficando apenas seu filho por nome de Valdemar
Moravam num terreno que podiam cultivar
Viviam plantando tudo para a casa sustentar
Seu filho a ajudava, num barquinho a pescar
Viviam humildemente, mas com muita união
Ambos saiam cedo para ganharem o pão
Ele com sua jangada e ela com suas hortas
Traziam peixe e verdura na maior satisfação
E pelas ruas, o que colhiam vendiam nas portas.
Só á noite descansavam depois de um bom jantar
Sentiam-se gratos com a vida que Deus os deu
Ela amava este filho, com toda força da alma
Juntos se consolavam, depois que o pai morreu
Eram pobres com certeza, mas tinham a vida calma.
Num certo dia da pesca, o seu filho não voltou
Ela foi até o mar, ver o que aconteceu
Não viu nada por perto, dele não tinha sinal
Como louca ela chorava, desmaiou, quase morreu
Os pescadores a levaram pra o médico da capital.
O sumiço deste moço, deu muito o que falar
Seus fregueses tristonhos sentiam a falta dos dois
A casinha era prova da Luci e Valdemar
O que tinha acontecido, viviam a se perguntar
Suas vizinhas e amigas, cuidavam daquele lar.
Nisto o tempo foi passando e o povo se acalmou
Não houve mais comentário, o caso envelheceu
Mais depois de algum tempo outro fato aconteceu
Alguém viu uma miragem e para os outros contou
Uma sereia e Vavá num barco de pescador
Deram parte a Marinha e esta os prometeu
Iria fazer campana o tempo que precisasse
Para resgatar o jovem, custasse o que custasse
Ficaram por muito tempo, nas águas a navegar
Um dia viram a sereia junto com o Valdemar.
Ele estava acorrentado e não podia fugir
Vivia dentro do barco de peixe se alimentando
Seu corpo já tinha escamas, que escondia a nudez
E todos viram a sereia a sua boca beijando
E ele se recusando, ela tentado outra vez.
A mãe havia um bom tempo que estava internada
Mas nunca se esqueceu do seu filho idolatrado
Voltou para aquele ponto onde o mesmo pescava
Foi ver com todo cuidado o que tinha acontecido
E viu o barco chegando e nele os dois estavam.
Ela mergulhou no mar com coragem e muita garra
Subiu e pegou seu filho, nadando bem devagar
Ele já não falava, era um ser bem diferente
Só seus olhos eram os mesmos, curiosos a lhe fitar
Tinha o corpo de escamas, não era peixe nem gente
Foi difícil para ela seu filho modificar
Voltou pra antiga morada, vivia só a orar
Pedindo a Nossa Senhora, para o seu filho curar
Viu uma linda figura ajoelhada a orar
E as escamas caíram, ele voltou a falar
Disse-lhe, o’ minha mãe, suas preces me salvaram
Eu fui um prisioneiro sem ter nenhuma opção
O encanto da sereia me deixou abobalhado
Transformando-me em peixe, frio e sem coração
Chegou uma bela santa, fez minha transformação
Este mundo tem mistérios, não se deve duvidar
Há nas matas e na terra, principalmente no mar
Só obterá êxito, quem no bom Deus confiar
Todos estamos sujeitos, de maus momentos passar
Mas com fé tudo é possível, nosso dever é orar
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