Sombras no nevoeiro

 (Sombras no nevoeiro)
 
Sinto que sou um poeta falhado,
E escrever tornou-se uma tarefa
Balofa, à qual me não dou de todo,
Sinto um receio que m’atabafa,
 
No que digo, como se fosse eu, Rossio
De vão d’escada, fico-me p’las deixas,
Bem lá no meio duma seara de joio,
Aonde se não diferença vultos e névoa.
 
Não espero troco nem pago de saldo,
Justo por algo que não tem pra’mim custa
Nem apego, julgo que me sinto dividido,
Entre o que digo e o que dizer me basta,
 
É como é, o reverso e a medalha,
De um lado, vem algo inscrito,
E do outro nada que o valha,
Apenas o dom e o dia de morto.
 
Sinto que sou um poeta falhado,
Por todas as razões e d’outras,
Apregoo estas de telhado em telhado,
Mas confesso-me cansado d’inventar desculpas,
 
Pois nem tenho assim tanto de escritor,
Como um louco
Tem, do cajado dum actor,
Ser o seu sólido especo…
 
 
Jorge santos (01/2013)
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Jorge Santos
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