(Dedico essa poesia a Emmanuel Bezerra dos Santos, potiguar, torturado
e morto nos porões do Doi Codi em 1973)
Teu olhar inquieto
Me acompanha dia a dia;
Teu olhar
Como quem trilha caminhos
Em busca da verdade
Ficou em minha memória
E me persegue
como quem faz confidências.
Teu olhar instigante
Como quem hoje busca uma resposta
Grita a todo instante
Em defesa do jovem
Que não entendeu
Ou não quis ouvir tua mensagem
Optando hoje pela marcha da maconha.
Teu olhar triste
Na defesa de que prostituição
Não é vocação, é imposição socioeconômica
Surge de vez em quando
E me enche de amargura
Por tua alma pura.
Não tiveste tempo para amadurecer
Tua crença em um novo mundo,
E nem te deixaram descobrir
O homem e todo seu lado imundo...
Imagino o olhar que eu não conheci
Sentindo o teu corpo mutilado
Em tua última agonia,
Depois extinto para sempre.
Penso:
Qual o olhar que terias
Nesses dias
E qual o livro me sugeririas
Para ler?
Não sei... não sei,
Só sei que nunca consegui
Nem nunca conseguirei
Me libertar do teu olhar...