RETRATO

 

 

 

Sobrou-me este sorriso esboçado a meio tom.
Vozes espalhadas pelos cantos das ruas
E encurraladas nas esquinas do tempo.

Sobrou-me esta beleza pálida,
Tímida,
entremeada de velhice e solidão.

Alguns versos apenas esboçados,
Encontram-se abandonados nas gavetas
Entulhadas de velhas recordações.

Muitos olhares perdidos
Ainda cristalizados na memória,
E alguns gestos doces de amigos envelhecidos.
Pensamentos e desejos que escondo a mil grilhões,
Para que não descubram que ainda sonho
Com a mesma força e o mesmo desejo da adolescente tola
Que recusou dar a sua alma,
Às algemas do tempo.

E isto me custa.
Custa o preço de ser ridícula.
De não ser entendida e estar eternamente só.
Custa o preço de não aceitar o peso do tempo,
Como um carrasco que me possa impedir de sonhar.

Mas custa-me também o preço de sonhar em silêncio.
De acovardar-me e não ousar,
Pois nasci velha e asfixiada pelos medos que me meteram goela adentro.

19/07/2008

Maria Eugênia Souza Silva