Não me julgue
Um pássaro torto
Julga o vôo
Que este pássaro
Faz
Para chegar
A ti
II
E a quietude
Da noite
Vem dizer-ne
Das cicatrizes
-Fio da fala
Que fere
Consola e marca
III
Nada levarei
Das andanças
Sobre a terra
E meu grito
Será antigo
Como a secreta
Sinfonia dos
ventos
IV
Não indago fantasmas
Nem a garganta seca
Do coração do mundo
Tenho meus rastros
E sonhos
E a leveza do vôo
Na hora da dor
V
Ah coração
-Tanque
Mergulhado
Pulso
E impulso
Aqui fora
Vagalumes são precisos
No apagar da tarde
VI
Costuro a solidão
Para não pendurar
Um sono torto
Vagamente
Como o silêncio
Que reveste o amor
Lençóis desafinados
desdobram-se
Como os sonhos do homem
VII
Como o rosto
Sem susto dos anjos
Herdei a quietude
das luas
É preciso a coragem
De um campo de espigas
É preciso saber das
sementes
Por fora
E por dentro
é preciso
VIII
Cantei em pedaços
Todas as demarcações
do tempo
Então pude dizer
Do fogo e da água
E a limpidez dos anjos
IX
Toma este sossego
-Palavra antiga
Mas reinventada
Pelo sangue novo
Que trago na memória
Toma esta lavra
Teu grito
É a casa do teu corpo
X
Ah!
Passos incertos
Não vim para julgar-te
Tu
Fontes de siglas
Signos e sina
Tu
Olho enviesado
Desalento
Sorriso murcho
Sobre as flores
Tu
Silêncio
Asa partida
Não vim para julgar-te
Estou distante e leve
XI
Arrancaram de mim
A certeza de tua
chama
Hoje
Te procuro
E me escondo
Por temor
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