Fora através de um simples pedido, meio bizarro, que ela sentiu que a estavam observando.
Somos notados um pouco a cada dia, mas na maioria das vezes, passamos como seres invisíveis em meio a multidão que caminha pela rua. “Sou até invisível em minha própria casa, mas não me importo, posso fazer o que quiser que ninguém vai falar, nem ao menos notar!” É assim que ela pensa, enquanto fica se olhando no espelho e volta a pensar naquele pedido:”apenas teus olhos, gostaria de ver apenas teus olhos...”
É um pedido diferente, normalmente pessoas que querem se conhecer pedem uma foto do rosto, do corpo, algo que possa ver totalmente a pessoa com quem está lidando, mas somente os olhos...
Ela fica pensativa, não diz sim nem não. Existe uma possibilidade, mas é muito remota porque gosta de usar a sua sombra como autoretrato. Se quiserem vê-la como é, basta olhar a sua sombra caminhando pela praia. Aquilo é ela.
Gosta do mar, do andar sozinha, final da tarde,sentindo a água do mar batendo bem de mansinho em seus pés, deixando pegadas pela areia que logo vão sumindo... “como gostaria que muitas coisas em minha vida fossem como estas pegadas... que sumissem e eu prosseguiria sem me preocupar em olhar para trás.”
“Gostaria de ver apenas teus olhos...”ela fica pensando nessa frase e se olha no espelho. Faz uma análise de seus olhos. Não são claros, são escuros, apresentam falta de luz, mas isso vem da alma que fica espelhada através dos olhos, não pode mudar muita coisa.
Poderia realçar com um lápis preto mais os seus olhos, destacá-los com uma cor para dar-lhes vida, poderia se maquiar para parecer menos invisível, mas ela não fará nada disso.
Será ela mesma porque qualquer coisa que fizer não mudará o fato de que seus olhos são duas portas por onde ela deixa sair uma tristeza forte que agora tem.
Onde antes eles brilhavam pelo simples fato de estar viva, agora os tem mais escuro do que o normal. Seus olhos são como uma noite sem lua, sem estrela, apenas escuridão.
“Então por que deveria mandar para alguém ver apenas o escuro e nada mais? Que bem lhe faria e o que acharia dela? Tão...tão... coitada por ser assim!
Não, não vai mandar. Decide. Que a conheça, se quiser, através de suas palavras que podem de uma forma ou outra transmitir alegria, mostrar que ela pode sim em raros momentos estar de bem com a vida. Os olhos só dariam uma visão parcial do que ela é.
“Eu sou muito mais do que eu vejo no espelho e posso mostrar as outras pessoas isso, posso ser alegre se o momento for oportuno, posso fazer as pessoas rirem se for da minha vontade. A minha tristeza é minha e isso não preciso compartilhar.”
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