VELÓRIO
E ali estava eu, sozinho naquela imensidão. Até hoje eu não sei o por que fizeram um cômodo tão amplo, que ao mesmo tempo ficava tão vazio e tão pressionado por meus pensamentos olhando o relógio cuco que havia ganhado de meu avô, depois de ele ter visitado sua terra natal.
De repente ouço baterem á porta. Não tinha a menor idéia de quem poderia ser uma hora daquelas, já que era tão tarde da noite!
Ao abrir a porta reconheço de imediato um homem alto, de pele negra e olhos fundos. O porteiro de meu prédio.
Ele vinha mais uma vez me dar uma resposta negativa à respeito do paradeiro de minha filha, que havia desaparecido já há algum tempo. Não sei o por que, nem como; só me lembro de ter mandado ela ir à padaria e nunca mais a vi.
Depois de tê-lo despensado, voltei para a minha monótona vida de homem abandonado pela mulher e pela filha.
Peguei a minha garrafa de uísque e despensei o copo que estava ao lado!
Depois disso só me lembro de estar sentado em um carro - meu carro - olhando para um homem todo de branco que piscava uma luz em meu olho.
De repente ouvi uns gritos chamarem meu nome, reconheci meu porteiro impertinente que vinha ofegante!
- Doutor, Doutor, é ela Doutror! - Gritava ele!
- Ela quem homem?
- A menina Doutor, é ela!
Era naquele momento que eu já tinha que estar pensando em como preparar um velório.
Felipe Pinheiro.