Eu falo sobre mim. Falo sobre o que o alheio me mostra, e como eu o sinto e recebo. Eu falo das coisas que me tocam com ternura, com tesão, com mágoa e raiva também. Eu falo sobre o que penso diante das coisas que vejo, e tantas outras que imagino. Eu falo sobre a saudade. A de ter tido e a de ter querido ter. Não. Eu não vivo tudo aquilo de que falo. Mas adoraria provar algumas passagens dessas.Tem dias que não falo, só penso. É porque tem dias que de fato não há muito o que dizer. Sentir já o bastante, e chega a ser indescritível e infinito. Ainda assim, gosto de falar, dizer. De vez em quando rimar verdade com fantasia. Eu gosto do beijo doce, que também arde e me faz passar a língua várias vezes sobre os lábios misturando o sabor na carne quente e macia. Eu falo enquanto meus olhos passeiam tateando aquilo tudo que me pertenceu em desejos, momentos, dias, vidas, até. Eu falo da gestação, criação de vontades, conquistas, projetos , amores, distâncias, encontros e finalmente, falo sobre o fim. Fim? Não. O fim não existe. Conheço o invisível ,me acostumo com o intocável, convivo com o silêncio, mas isso não é o fim. É o segredo de cada um, É só o que sinto. Eu só falo sobre mim, e o que o alheio me mostra, como eu sinto e recebo.

Marihe
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