Cansam-me estes meus suspiros tristes, cansam-me a nitidez das coisas.
Pudera eu, não sentir coisas assim,pudera eu conter-me um pouco mais, dominar-me enfim.
Quisera eu, esquecer-me que saem de mim estes vastos suspiros.
Quisera eu, agarrar-me a alguma outra coisa que substitua, mas é certo que nada irá me preencher.
Se o vazio que me cerca é por nossos olhos, que não se encontram mais.
E lá vou eu outra vez lembrar da profundidade do nosso olhar.
Sem descansos, sem qualquer dilúvio e sem quaisquer ordens, vou cessando os meus dias assim, não muito diferentes de antes, curtindo, tentando, sonhando, fugindo às vezes dos outros, de mim mesma, escrevendo ou tentando outra vez deixar registrado, para alguma outra Ana sorrir um dia, quando rever seus sorrisos, os teus e os meus, rever o brilho dos olhos castanhos perpetuados em minha vida. Meus passos ficaram, basta agora o amor seguir-me...
Já dizia alguém “longe é um lugar que não existe”, sabendo que isso não se trata de “ilusões”, e que “A ponte para o sempre” ainda nos aguarda, porque nós somos as “Gaivotas”.
Voe o quanto desejar que eu também voarei, mas há de haver um dia em que nosso vôo será um só, o mais completo, o mais perfeito, porém eu ainda não sei voar, mas o meu caminho já está sendo percorrido, desnecessário agora, é tentar ir além do meu tempo.
Se voar for como o encontrar dos nossos olhos, voar então é tão mais belo quanto um dia eu sonhará, teoricamente eu alcanço alguma coisa agora, eu não posso ver tão longe, mas é o bastante por enquanto, sabendo que eu posso ver infinitamente com os olhos fechados.
Se eu fantasiei é porque há fantasias em mim, mas não duvide de que ainda há asas a serem construídas e vôos que nos esperam junto com as respostas que nos faltam.
Obs: se alguém me dissesse alguma coisa parecida com isso, se alguém sentisse um terço dessa magia que eu pude traduzir aqui, esse alguém seria excepcional, porém eu relatei um caso aqui, o meu caso, e esses olhos castanhos não são apenas os meus, eu me refiro a alguém, ele tem nome, idade e eu o conheço: tem um coração que pode sentir algo extraordinário ao ler isso, o coração que eu procuro já sentiu tudo e/ou mais do que eu fui capaz de dizer com toda essa minha infantilidade, esse meu medo.
Eu estou falando de alguém não melhor do que eu, mas sim incomum a qualquer outro, é com esse homem que eu vôo todas as noites quando me deito, é por este homem que meu peito queima e borbulha alegrias constantemente, foi com este homem que eu aprendi a ver o outro lado, foi com ele que eu tive os abraços mais apertados de minha vida, e era ao lado dele que minhas emoções quase não podiam ser contidas.
E é porque existe esse amor no meu peito que eu estou tranqüila, porque o mais importante já aconteceu, sem esforços, sem nada que me fizesse duvidar desse sentimento... A profundidade do nosso olhar... Nada além disso.

22/07/2004