Chove lá Fora

 
Olho o opaco ódio no firmamento,
Troveja o trovão, trombone do céu,
Suspiram sibilantes, sussurros, vento,
Parecem me acusar, acuado réu.
 
Dentro de casa, pelo vidro da janela
Me sinto seguro, mas quem sabe
Não é apenas minha impressão,
Uma falsa idéia de consolação?
 
Sim, eu acho que é isso mesmo,
Aqui dentro também, chove à esmo.
 
Como chove se tudo está seco?
Seco, sim, mas isso é por fora,
Seco, sim, aos cegos olhos teus,
Pois está tudo molhado para os meus.
 
Chove dentro de mim, dilúvio,
Ou talvez seja só um triste distúrbio,
Não sou eu quem vai dizer a verdade,
Mas minhas lágrimas são realidade.
 
Lágrimas pra quê? Por que derrubar
Gotas de água e sal, que não vão mudar
Nada nesse mundo, nem a nós mesmos,
Mas mesmo assim elas insistem em cair.
 
Eita Deus meu! Esse coração não presta!
Tá chovendo lá fora, e ele aqui chorando,
Achando que vai mudar algo, que besta!
Ou besta sou eu, que fico aqui falando
Do meu coração como se fosse exemplar,
No fundo, talvez esteja só me gabando
De ter recebido esse músculo vascular
Capaz de pensar poesia, que tento escrever.
 
A verdade é que chove lá fora,
E eu aqui dentro não tenho o que fazer.
 
Essa chuva não vai? Já passou da hora,
Tá chato aqui e eu quero ir beber.