Hoje sou obrigado a mentir
Olhar nos olhos e fingir
Suprir a carência com o reflexo
Grande amigo e inimigo
Acerta em cheio a minh'alma

Cumpre-me o papel de persuadir
Trabalhar nas técnicas intuitivas
E te obrigar a se arrastar

Hoje sou obrigado a te seduzir
Acertar o tom e cumprir
Envolver-te em meus braços
Fazer-te dormir e sonhar meus abraços

Hoje me obrigo a fugir
Tatear os caminhos, partir
Sombrear os meus passos
Trançar os pedaços
Remontar o tal órgão

Amanhã obrigo-me a regressar
Soluçar, suplicar e implorar
Já não há mais remédio ou saída
Procuro esquecer a partida
Redimindo-me ao cair nos teus pés

Conflitando a mente e o sentimento
Me desfaço e me envolvo no vento
Pr'esta brisa arrastar este corpo

Sem demoras me relembra a partida
E devora-me tu'alma ferida
Já não queres lembrar o perdão

Volto então cabisbaixo e sem rumo
Transtornado, saindo do prumo
Acordo e me volta a razão

Permaneço no hoje terceiro
Em fugir-me foquei no primeiro
Saindo, vagando no mundo
Esqueci como usar o segundo
E me foco em não mais retornar.

Leo Augusto
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