Fim de noite no Doron

 Fim de noite no Doron


          Uma, duas, três cervejas...e em meia  hora o amarelo da mesa é confundido  com as cores escuras das garrafas vazias que se amontoam, dando ao recinto um toque de final de semana, autenticado  com os pratos transparentes, onde os tira-gostos eram postos.  A turma de amigos se reunia ao redor da mesa numa alegria transparente. Comungavam de um mesmo espírito de liberdade.
          O dia: sexta feira. A hora: de curtir os amigos.  O sol já havia se despedido e a noite parecia prometer. Os lábios ociosos contavam casos e a conversa tomava uma liberdade desconexa, tornando aquele momento vagabundamente agradável, com direito a risos e palavrões deliberados.
 
          A ordem era extravasar. Se permitir fazia parte do artigo 1º do  parágrafo 2 bem enfatizado no estatuto das P.M.F(Partido das mulheres Flexíveis). Nisso gozavam as damas  presentes: nas expressões de bobo dos cavalheiros que foram expostos a ignorância pelas partidárias cruéis. Esse clima deu certo ar de sedução e a noite estava apenas começando.
 
          A atmosfera era de bar muito freqüentado, com direito a um axé music (como fundo), estalos de copos quebrando, líquido sendo entornados, xingamentos, assobios, garçons e carros apressados...  As mesas espalhadas pela calçada permitiam a alguns a visão de um céu estrelado e a todos a ousadia de um ventinho que se aproximava de quando em quando, fazendo parte daquela festinha particular. Os corações também se faziam ouvir, com suas batidas ritmadas. Para uns o mesmo compasso costumeiro; para outros o batuque de muitos tambores.
 
          Salvador! Terra de encantos e desencantos! Para que prever o segundo a frente se todos ali, estavam pagando pra ver? A noite passaria, de certo, porem a cumplicidade do momento permaneceria registrado em algumas folhas de papel.
 
          Há quem diga que algumas boas horas de descontração, espantam o mau humor e revigoram o espírito. Se há veracidade nessa afirmação, eu não sei, porem não posso deixar de admitir que testemunhei ali, seres  humanos totalmente despidos de suas preocupações diárias, de suas corriqueiras picuinhas que envelhecem a alma, externando uma vivacidade da juventude  compromissadas apenas com o seu bel prazer.
 
          Suzanna só queria se divertir. Sair da rotina. Dormir fora de casa. Saborear o gosto da liberdade que vicia. Que instiga. Agita a fantasia. Bagunça os pensamentos mais organizados. Em fim, adentrar num mundo sem cobranças, responsabilidades, compromissos... Aliou-se a Clara. Essa mais jovem dona de si. Respirava a própria essência de Dionísio. Uma mistura que desvirtuava a lógica, intimidava a razão. 
 
          Essa noite de sexta nasceu mesmo na tela do computador, onde essas duas amigas   teciam, irreverentemente, enredos. Seriam as protagonistas de suas historias. Não esperavam o acaso  e com ele uma mudança de roteiro. Perdiam-se em cada novo ato.    
 
           Clara bebeu muito e o álcool passou a ser seu cúmplice indispensável. Deu asas ao que já estava no ar, a tudo aquilo que ansiava o corpo. Fui capaz de detectar olhares numa troca fulminante de cobiça.  Já passavam das 23:00 horas porem o calor mantinha  a chama do desejo acesa. Como poderiam eles, depois de lerem a minha narração, negarem aquela atração tão manifesta?  
 
          O acaso roubou da Suzanna  o regozijo que ela se proporcionara no decorrer do seu script. Eu a via reformular cada fala, cada gesto a todo o tempo a fim de acompanhar a animação dos amigos.
          Duas horas da manhã e parte da turma que ainda estava na mesa do bar, se levantava para voltar pra casa. Ouvi dizer que a historia seguiu o seu curso e que a noite, pra valer, começou a partir daí...    
 
          Quanto a Clara e a Suzanna? Continuam escrevendo suas próximas aventuras...


Texto
Zanna Santos
11/nov/2008   
      

Zanna Santos
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