Contam-me que, perdida a alegria,
Convocam-se equipes a buscá-la.
Esteja no bosque, brincando com antílopes,
Esteja no rio, afagando suas águas.
 
Vasculham cada palmo, cada chão.
Dissecam cada árvore, cada estrela,
Investigam cada bolso, cada olhar.
Procuram toda a noite e tudo em vão.
 
Ninguém desvenda o enigma
Do fabuloso desaparecimento.
As buscas restam infrutíferas
Trazem seu cansaço e seu lamento.
 
Adormece a cidade... Solidão.
Corações dilacerados... Nostalgia...
Nas festas ninguém mais rirá:
Como rir sem os matizes da alegria?
 
Nas danças ninguém se elevará
Voltarão silentes das batalhas...
O tempo escoa. Ninguém mais recorda
Das festas e sonoras gargalhadas.
 
 As leis, os códigos, a doutrina
Definem a tristeza e a sisudez
Como naturais marcas desse povo
E o povo aquiesce, como sina.
 
Eis senão que em meio à insônia,
Nessa casa pobre da mulher cristã,
Ouve-se um riso, uma brincadeira,
Quem estará tecendo coisa banal e vã?
 
Acorda-se a cidade. Ajunta-se o povo
Quem ousa quebrar o silêncio santo?
Archotes, armas, ódio e julgamento
Chegam ao casebre, triste e sem encanto.
 
Uma mulher nina sua criança,
Uma criança que, pura, se anima.
E a casa, em plena madrugada,
Destaca-se na vila e se ilumina.
 
A multidão para, aberta a porta
A beleza do que vê, a contagia
E, em plena madrugada, estarrecida

Presencia o retorno da alegria.

EDILSON LIMA NETO
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