Cinco horas e treze minutos...
Madrugada!
Olho, pela minha janela, o mar.
O mar majestoso e manso,
por vezes cruel e traiçoeiro.
Raios obscuros numa metaforse
de luz se projectam no seu seio
fazendo parecer mais
um mar de pirilampos
que líquido salgado em repouso.
Algo me ocorre no pensamento,
como tantas outras vezes,
(que) deixo vaguear o espírito:
- Se o mar tem alma?
Como nós...
Se ela é igual à nossa?
Alma com a mesma paixão
e defeitos que nós humanos,
matéria também...
Mas porquê alma?
Porque não espírito,
uma força motriz qualquer
provocada por nervos em vibração!
Porquê alma?
Porque não coração?
 
Apodero-me do pensamento
bem quente, em ebolição.
Toda a reacção de um cérebro
ao rubro me rebentam na pele,
nos dedos, na boca, nos olhos
cheios de maresia.
Ordeno as ideias e transmito
à mão mensagens sem fim.
E escrevinho letras sem fim...
Sem tino, palavras que não atino.
Mas escrevo o que penso, que sinto.
Sou louco pensando como agora
em algo descabido...
- UMA ALMA GÉMEA!
Parecidas como duas gotas d' água,
que se encontram e se reproduzem.
Algo utópico...
Seria destino, ou uma força estranha
e poderosa?
Mas para quê lamentar?
Tudo o que resta é sonhar!
Só passar por esta vida deixando
apenas impressa a nossa presença
numa reles fotografia que temos
então "matemo-nos"!
 
Almas gémeas!
Quem as viu ou as sentiu?
Se conhecerem alguma,
digam-me...
- Diz-me mar!
- Diz-me céu!
- Diz-me chuva!
- Diz-me vento!
Nada? Nada!
Não haverá amor, um par sequer,
para formar uma alma gémea?
Nada? Nada!
 
Oh! Seis horas e vinte e um minutos.
Vai despontar, da madrugada,
um dia mais. E eu???
Vou voltar à realidade...
"Almas gémeas"?...

Triste Poeta
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