Doía-me as lembranças perfurando-me as
[têmporas
Malditas memórias macabras como os morcegos
[deste verso
Restos de chuva, de um dilúvio último...
Eram rostos de anjo talhados em porcelana fina,
[olhos de vidro, asas de cisne...
Tudo isso arrancava-me a fome pelos olhos
E servia-lhe como alimento à urubus hediondos
[que pousavam no meu destino.
Era um passado que grassava len-ta-men-te no
[intestino
Como um grão de gangrena que grimpava
[minha goela
E pulava em ponta para ainda sofrido ser o
[desengasgo
Foi no amanhecer da vida que vi o sol
[fragmentar-se
E, desta explosão, que em meu colo,
[Num acaso]
Como uma rosa que brotou do vento,
Caiu um pedaço da Estrela Maior.
Recolhi sem vacilo, guardei-o.
É com ele que, hoje, ilumino com um
[feixe de graças
As micro-trevas da minha vida.
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