memorias de negreiro

memorias de negreiro



MEMÓRIAS DE NEGREIRO
 
 
Pareço ouvir gritar, as vozes de louvor ao luar das festas ,a lua negra a iluminar .
Pareço me ver ali sentada a beira da clareira com olhar distante a sonhar.
De repente um grito ,não mais de festa será que é de dor ou alguem que se desespera?
Ainda assim pareço ouvir cantar, mas não mais de alegria, pois ouço lágrimas de mães que ao ver suas crias deixadas pra traz, nada podem fazer a não ser conter seus tristes ais.
Pareço ouvir clamar as vozes os algozes aos negros incomodar.
Soar de chicotes, tinir das algemas, correntes pesadas a arrastarem pra morte, aqueles que antes liberdade era sorte.
Pareço ouvir calar os sons das festas a noites de luar, transforma-se em negro o céu onde antes era festa agora sepulta o negro véu.
Gritos gemidos de mulheres violadas por tantos torturadas, homens indefesos a esta cena chorar.
Maldita sorte que nos trouxe para morte onde não sabemos onde parar!
De repente um silêncio não mais se ouve vozes, chicotes ou algozes, mas sim um arrepio de morte.
Mulheres enfileiradas, homens acorrentados não sei se sangram de dor de medo ou de pavor,  por essa cena a olhar.
Pareço a vistar um lindo cenário, altos coqueiros o vento embalar .Areia vermelha lavada com sangue de gente estrangeira que naquele monstro se fez embarcar.
Não pareço ouvir cantar, só um no na garganta me faz calar por saber que não mais posso pra minha terra voltar.
E agora o que será? Escravos em terra distante, sem nem mesmo poder retornar.
Mas o mais triste ainda vou lhes contar, não foi a forma da derrotar de ser trazidos pra cá,  mas o que a mim me faz chocar é que nem depois de lhes contar o que ser negro a vocês posso tocar, pois no meu sangue corre o negreiro pois o preconceito ainda me faz clamar, não uso correntes aparentes, mas a falsa ideia de liberdade que vocês a nós negreiros vivem a dedicar.
 
 
 
ADRIANA DANTAS

 

dedicado a consciencia negra

pensando na dicrimina

Adriana Silva Dantas
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