Corpos deglutidos numa Receita

 
 
O massacre da vitória


Debaixo desse solo viril...
A putrefação já consolidou um reinado
Com os corpos do nosso povo

Carnes inocentes frentes a ambição do colonizador
Firmam acordos frágeis sem saberem que a dor
Um dia no tiro ia cantar...
Cantar música fúnebre
Sobre os crânios caídos
Sobre a garganta a esfolar...

Onde estão as medalhas de povo?
Será que na pocilga do abismo?
Onde encontramos o renovo
Para as dores que sentimos?

Onde estão os méritos dos nossos heróis?
Serão imortais?
Serão esquecidos pelo tempo?
Eles tentaram defender o que era nosso
E suas famílias ganharam os ossos
Que se transformaram em pó no vento...

Essa terra viril bebeu o sangue inocente
Deglutiu a nossa frente
Toda a riqueza do nosso coração...
Desejos ímpios não crentes
Olhos em chamas contentes
Palavras de acordo e uma espada na mão...

Quem são os ladrões afinal?
A inocência nos nossos olhos
E a vontade febril em nossos corações;
De mãos dadas nos acordos
E flechas nos corações...
A nau cheia de monstros espartanos
Navegou em nossa direção naquela noite...
E o índio a sofrer antes da perda... Ia perder.
Flechas voadoras nas mãos
Contra os sons dos trovões
Aquela hóstia não sabia morrer...

Mas nós... Simples antropófagos.
A vontade de comer
Ou a força de querer
Não foram suficientes pra vencer...

Tudo dominado
Tudo conquistado...

E o nosso troféu...
Estão com os nossos filhos enganados
Por uma farsa da história;
Estão com nossos corpos enterrados
No mais alto podium da vitória...
Da glória...

Como prêmios concedidos...
Por uma trapaça bem feita
E os nossos corpos deglutidos
Por uma receita...
O massacre da vitória...

 
 

 

by:kirah

kirah
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