4 da manhã...
A angústia devora-me. Sinto minha pele queimar... Minha cama não consegue confortar-me e tudo parece mais estranho do que nunca.
Levanto-me e olho pela janela. Como eu queria chuva agora... sentir as gotas límpidas molharem meu rosto misturando-se a essas lágrimas inúteis que me confundem.
Queria morrer de frio lá fora. Mas, este lugar é irritantemente quente...
A angústia penetra mais fundo. São os meus ossos que queimam nesse momento... Meu peito está cheio de uma sensação mórbida e perturbadora. Sinto que posso explodir.
5 da manhã...
Tento entorpecer essa dor que chega sempre sem convite, sem aviso. Busco em minhas lembranças alguma boa recordação que me distraia... Olho meu filho na cama e peço perdão em silêncio por me sentir tão mal agora, mesmo com sua deliciosa presença ao meu lado.
As lágrimas inúteis continuam incomodando... teimam em cair dos meus olhos, como a chuva iminente que as nuvens não conseguem segurar. Inundam meu rosto cansado pela noite insone... molham meu cabelo colando-o a minha pele agora fria. Neste instante, a sensação de frio que desejei minutos atrás se aproxima. Respiro com dificuldade, sentindo o peito doer.
6 da manhã...
O sol chega de mansinho. A angústia finalmente começa a se afastar. As lágrimas já não me parecem táo inúteis, pois levam com elas a sensação mórbida e perturbadora que antes preenchia meu peito. Respiro lentamente, sinto o ar da manhã penetrar meus pulmões suavemente e sinto-me ridiculamente feliz por não ter sido capaz de morrer de frio...
7 da manhã...
Ouço o riso doce que mantem-me viva, a voz manhosa que me pede colo, o rosto lindo que me faz tão feliz agora e leva pra longe toda a tristeza e dor que esta noite insone proporcionou-me...