BAGAGEM, CREPÚSCULO E O DESCONHECIDO

                      
 
 
 
Tenho cãs nos olhos:
A noção de fugacidade da vida
Arrebata-me pouco depois que saio
Do aminiótico aquário no qual, por meses, residira.
 
 
Guardo, dentro das narinas,
O eflúvio da fumaça assassina:
Meu olhar é tragado
Pela viscosa pemeabilidade
 
 
Que floresce das vielas
Onde mora o desdém á prosperidade dos desvalidos Girassóis:
Então, como não conseguissem germinar
Tal rebentos da via Láctea da igualitária ascensão,
 
 
Encontram, nos afagos
Que vicejam da moderna
Prole da pólvora,
A senda para segurarem o pólen do poder nas mãos.
 
 
Entretanto, este curto caminho
É insidioso, visceralmente ferino:
O êxtase que ele proporciona
Cobra o preço do prematuro e imorredouro abismo.  
 
 
 
Ah, a sofreguidão e o afinco,
Com os quais se entregam estes artífices famintos,
Alimentam a fome dos dantescos barões da ignescência
Por novos edens da sangrenta opulência!
 
 
Trago lágrimas nos olhos:
Penso no quão dardejaria
A lactente constelação de estrelas
Se houvesse escapado da gula do desconhecido que cria a supernova egoísta.
 
JESSÉ BARBOSA DE OLIVEIRA