O Ciclo do Lugar Nenhum

Descalços no chão, sangravam seus pés.
Um terço, alguns restos de pão e duas moedas em uma, a enxada se ocupava de sua outra mão.
Na terra cheia de cor, fixava os olhos secos de lágrimas.
E os olhos cheios de dor, fixos na terra seca de água.
Diziam-lhe as vozes: -anda depressa e não pára pra olhar.
Nem as flores, nem as nuvens, nem lua se quiseres chegar.
Não sabia aonde ia, nem mesmo porque corria, mas uma coisa era certa: caminhar, caminhar, caminhar.
Duas listras vermelhas seguia, haveria de dar em algum lugar.
Pois, sonhos, não mais os tinha, a realidade que lhe deram, era bem mais fácil de carregar.
No peito, marcas da vida, a face pálida perdia-se na densa poeira do ar.
Porém nela, um sorriso nascia, ao ver nas linhas o final que há muito tentava alcançar.
Parou e voltou-se pra trás, quando a surpresa, o pulsar lhe cortou.
No caminho que ele trilhara, outro rastro de sangue ficou.
E ao longe, mais um homem, com os olhos no chão, rumando ao mesmo lugar

Luis Eduardo Guerra (bailinho)