Juntei tudo na ponta do verbo pra ver no que dava; e, no que juntava, percebia que a conta do verso não fechava, e eu sempre devia no final (porque calculo mal), e a poesia com que eu sonhava era bem mais do que a real; minguava na hora de encarnar. Vanglória! Ao juntar, eu caía do cavalo; mas no embalo em que eu descia a própria descida me enganava, e no galo que se me nascia na testa eu enxergava uma festa de poesia gerando vida! fumo! lava! melancia! e minha mente danava por outros rumos, afetada e sem prumo... Da minha loucura surgia a ilusão, a suposição e a expectativa sem cura (pura e simplesmente imaginativa) do êxtase, sem base, numa fase delirante, demente, irracional...
E diante do fracasso, esse mau poeta não torcia o braço e se iludia numa nova meta, um novo traço, uma nova rima surreal. De tanto mentir pro cansaço, acabou acreditando no clima que criara, entrou num laço, num círculo vicioso, e até hoje o verso mentiroso que ele prepara convence o Universo e as gerações futuras de que isso é que é poesia: essa teimosia sem razões e sem cura.
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