No princípio eram os meus pensamentos que voavam,
Sem rumo, sem direção, e só o desconhecido encontrei.
Depois, passei a caminhar às cegas e muitas aprontei,
Mas a lugar nenhum cheguei, só meus gritos ecoavam.
O cansaço, a prostração, a dor, de mim já se apoderavam,
E diversos apelidos surgiam, tais como “foto sem imagem”,
“Vela apagada”, “flecha ligeira”, “poça d’água”, bobagens
Que, de maneira muitas vezes repetidas, me incomodavam.
A ridicularização a que eu era submetido, tida e havida
Como brincadeiras pelos amigos, me atingiu em cheio,
Uma vez que me recolhi ao isolamento, deixando o meio
No qual sempre convivi, como se fosse a única saída.
Fiquei debilitado, física e moralmente, corpo escanzelado,
Sem ação ou reação, afundado no mundo de uma nevoenta
Inconsciência. Somente chorava, até que uma amiga atenta,
De mim compadecida, indagou-me se queria ser por ela zelado.
O ser humano, disse-me ela, é dono do seu próprio destino.
-- Você está produzindo um mal cuja vítima é você mesmo.
O homem é aquilo que faz (Sartre) e não pode viver a esmo.
Portanto, erga-se, levante a cabeça e absorva este ensino.
-- O homem é livre e tem, em tese, potencial para se recuperar
E buscar, incessantemente, obedecendo princípios, a felicidade.
O seu choro compulsivo pode ser a fuga de uma ansiedade,
Que, com humildade, boa vontade e reflexão, há de se superar.
Felizmente, ouvi, com redobrada atenção, a amiga querida,
Respirei profundamente, fiz uma prece, ergui o escanifrado corpo
Expulsei de mim a ansiedade, recuperei o imprestável corpo morto
E chorei, pois o choro é o grito que anuncia o nascer de uma vida.
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