Maestro de uma orquestra que só ele ouvia, sentou-se pra escrever poesia: era uma festa de harmonia desenhada no ritmo da sua baqueta, da sua caneta; cada verso um acorde, e uma tríade perfeita, e um crescendo, e uma pausa; e uma rima sem causa era uma síncope semifusa, uma linha confusa, um desvio na métrica, um início anacrusa, uma harmonia tétrica em tom menor, uma redondilha maior falando da dor, um soneto bom que a cada terceto sobe de tom; enfim, tudo era melodia e poesia e sinfonia sem fim... sem som... sem sombra de dúvida, a música lívida se escuta em todo poema: canção tema da muita emoção vívida que a pena carrega, embebida de dom, às vezes absurda, às vezes cega, mas nunca surda nem fora de tom...
Embora sem partitura e sem teoria, quem leu a escritura também ouviu a poesia-cantiga, e deixou-se embalar na tecitura amiga e gentil. E o maestro sorriu ao dedicar-lhe um último traço, como encerrasse o gran-finale acertando no alvo a última nota do último compasso...
da última poesia...
"Bravo! Bravo!", o silêncio aplaudia.