Ando pelas vielas imundas da baixada
Procuro-a em cada beco como um viciado
Os ladrões espreitam nas sombras ocultados
Mas não é importante se lhe falta dinheiro
Suas roupas são propositalmente rasgadas
Seus lábios carnudos deixam atordoados
Seus amores incontáveis foram registrados
Em uma agenda descartada no banheiro
Seus hábitos são repudiados pelos reverendos
O motivo principal de suas pregações
O pecado original das tentações
Mas se transvestem e a imitam em segredo
Por onde anda, pequena diabólica?
Mudou-se novamente, doce paranoica?
Te farejo mais que antena parabólica
Reconheço seu cheiro adocicado e poluído em degredo
Machuquei seu coração da última vez
Arrumou a cama, me serviu o prato que fez
Chorou feito criança diante de minha mesquinhez
E parti logo cedo como outro arruaceiro
Saiu da cidade, mudou de país?
Sei que não há terra que finque raiz
Nem nada que feche a cicatriz
Deixada por tolos e seus preconceitos
A nevoa já toma conta da madrugada
As portas do último bar foi fechada
As ruas que levam à estrada
Verteram-se em nojentos atoleiros
Abro a última garrafa de vinho
Que ganhei de um bom e velho amigo
Me ajeito em uma calçada, às cinco,
E antes que chegue o amanhecer, bebo
A ela, pequena diabólica de péssimos hábitos
Uma tempestuosa primavera dos gambitos
Um brinde à rainha do seu âmbito
A nômade de todos os guetos.
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