O amor sempre me pareceu uma espécie de aberração. Por parecer incompreensível cientificamente, me parecia bobo e insano. Sempre considerei colocar as coisas no papel. Me instruir e pensar a melhor forma de compreender. Sempre me vinha a cabeça uma coisa que uma professora de matemática do Ensino Médio havia definido em uma aula. Uma reta – disse ela – é o encontro de dois pontos. Acho que foi o mais próximo que eu consegui chegar à ideia do que era um amor. Havia visto e contemplado uma cena (que me pareceu rara na época) e que me marcou de uma forma muito forte. Lá estava a luz que se forçava a abandonar a escuridão, lá estava ela em seus saltos, assim como uma pintura renascentista de Rafael ou Leonardo. Aí surgia o primeiro ponto. Seguiu-se os acontecimentos, os fatos e as fantasias, o impossível e a realidade, até que vi um segundo ponto. Estranho, lá estava ela novamente, sozinha, e a luz não parecia cegar meus olhos, não parecia mais um Boticelli, nem mesmo reconhecia nela o esplendor do que um dia me pareceu o infinito. Havia acabado o sonho, havia acabado o rascunho. Pensei novamente na aula de matemática. O conceito de ponto havia sido introduzido pelos antigos matemáticos, para explicar e representar os objetos retos. O amor são dois pontos, são uma reta. Muitos pontos. Mas sempre o último será o ponto final.
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