COLÍRIOS ARDEM

Os filhos se multiplicaram em sete bilhões

Hoje se dividem à subtração do sacrifício pelas causas defendidas

Ambiciosas estratégias gerando transformações

Remédios que curam doenças, mas abrem feridas

Herdeiros do pó vagando por existências vazias

 

Sonhos deturpados, desejos triviais

Mundo coletivo, benefícios individuais

Gargantas secas se esgoelando em pranto e dor

Línguas fartas blasfemando sem motivos com furor

Cronologia revivida em ordens invertidas

 

Ninguém é nome que ninguém deseja ter

Aliás, dar nomes tem sido nossa tarefa desde o primeiro homem a nascer

Criar nomes desejando um dia um grande nome receber

Alguém se tornando um ninguém na solidão de suas conquistas

 

O crente é convencido a manter suas crendices aprendidas

Não se importa em entregar sua esperança às escuras

Desde que tenha suas necessidades atendidas

O cético se incomoda com verdades absolutas

E é perseguido por não viver segundo as condições exigidas

 

Muitas lanças, poucas cruzes

Águias de mau agouro, presas cativas dos costumes

Sofrimento em sentir que tudo não passa de ilusão

Peleja para conseguir se desgarrar de toda condição

Lucidez vista como rebeldia pelas garras das milícias

 

Pela fuga da alma se gera um custo muito alto

Pelo medo da repreensão viver a verdade é algo raro

Fantoches voluntários, liberdade de um escravo

Fábulas prazerosas em troca de evidências escondidas

 

Rafael Delogo