Causa mortis

A lágrima já não chora,
 seca ou deixa de nascer,
o riso perde a graça
não há razão de ser…
A dor se fecha em silêncio,
 não mais vigora,
cansa de doer…

O verso que antes sorria
e atrevia a inspiração
de morte quer se prover…
A arte nobre do artista
passa a ser vista
sem admiração…
A sensibilidade,
mãe que gera a verdade,
vira insensibilidade.

O ar rarefeito
impenetra o peito,
defronta o pulmão,
não há mais efeito,
ação, reação…
Não há coração.
Banaliza-se a essência,
de carência o amor se faz,
o homem sem consciência,
petrificado jaz.

Perde-se a ternura
no cais da desventura,
em portos que não se veem mais
a brandura dos abraços,
a tristeza dos jamais.
Auroras perdem belezas,
horizontes embromam linhas,
a morte peregrina,
a vida se desfaz.


Carmen Lúcia