Depende de nós: o mal ou o bem.

 
O problema e as barbáries do Brasil
Não estão no STF, nem nos governos
E tampouco nas instituições;
Muito menos, nos partidos políticos.
 
O problema do Brasil e,
Em menor ou maior grau, do mundo,
É gestado e esparge de nossa cultura introjetada,
Ou de nossa essência humana
- animalesca, com certeza não o é –,
Uma vez todos os demais animais
Não têm essa índole deliberadamente dantesca.
 
O problema da nação é ínsito ao nosso arquétipo
- ou seria psique!?
 
Pensemos: se assim não o fosse,
Nossos ancestrais – os mais abastados –
Não teriam quarto de empregadas.
Se assim não o fosse,
Em nossos condomínios seriam desnecessárias
As placas indicativas para deficientes e idosos.
 
Se assim não o fosse,
Nos meios de transportes coletivos
Seriam prescindíveis os  sinais
De assentos preferenciais
Às pessoas especiais
(devido à sua condição desfavorável).
 
Se assim não o fosse,
Um cidadão comum adentraria
Em qualquer delegacia,
Desacompanhado de advogado,
Sem que lhe fosse imputada
A pecha de marginal.
 
Se diferente o fosse,
O Estado policial,
Numa blitz rotineira,
É que teria que provar que um cidadão
Qualquer é bandido,
E não o contrário, o trivial,
Com o ônus da prova de que não é marginal,
Diuturnamente, a cargo do cidadão nacional.
 
Se adrede a nós não o fosse essa bazófia,
Os membros do judiciário e do parquet
Não teriam quase 100% de penduricalhos
A mais em seus vencimentos augustais,
Com o primevo e singular intuito
De ludibriar o estado fiscal,
A quem está esta casta
Umbilicalmente vinculada.
 
Se não fosse pelo nosso exercício
Diário e néscio do hedonismo,
Se não existisse, em nós, a utópica
Ideia de terrena eternidade
Das riquezas e dos poderes e das autoridades,
Tudo seria mais leve e belo e aprazível e divino.
Como disse São Lucas: quanto mais necessidades
Um homem tem, menos liberdade.
 
Hodiernamente, estamos vivendo necessitados.
Necessitados do revide, da revanche,
Do poder pelo poder, do exibicionismo,
Da desforra, da perpetuidade, do fisiologismo,
E da acumulação de bens materiais
E da juventude e das benesses,
A toda e qualquer moeda – ou seria desforço (?),
Pois que desprovidos do essencial:
Amor próprio e ao outro.
 
É inegável que para inflar nosso ego,
Envidamos esforços hercúleos,
Nem que tenhamos que amontoar nossos semelhantes
Numa sarjeta oblíqua e invisível
Ou façamos de seus sentimentos
Os degraus de uma escada pênsil
Para chegarmos a lugar nenhum.
 
No final, em decorrência das nodoas
De nossa pusilânime essência,
Vivemos vazios de paciência,
Alardeamos sem inteligência,
Apontamos ao outro, sem clemência,
O nosso desequilibrado indicador
Carcomido pelo clamor
Das opiniões urgentes.
 
Olvidamos que, segundo Santo Agostinho,
A humildade é o primeiro passo para a sabedoria.
 
Reciclemo-nos:
Analisemos se as nossas a atitudes
E condutas e ações cotidianas
Coadunam-se com o bem que almejamos
Para a nossa fugaz passagem
E para a humanidade,
Uma vez que o homem bom,
Do bom tesouro do seu coração tira o bem;
E o homem mau, do seu mau tesouro tira o mal,
Pois do que há no coração em abundância,
Disso fala a boca, sem jactância.