A poesia que eu conheço é a poesia das sirenes, das páginas policiais,
dos gritos ignorados nos corredores dos hospitais públicos; a poesia que eu conheço é a poesia do preconceito,
a poesia dos presídios, dos asilos, dos prostíbulos, das calça- das habitadas;
é a poesia do câncer que devora,
dofilhoquenãovinga,dofilhoquenãovolta, da bala perdida que nunca seperde,
dopaideseisedopaiaosdezesseis;
a poesia que eu conheço não voa, não anda, rasteja.
A poesia que eu conheço jamais será declamada porque existe para ser cuspida,
vomitada, tragada, bebida, injetada;
a poesia que eu conheço existe para ser gritada na voz do andarilho,
do velhaco, do moribundo, do bêbado, do sujo, do esfomeado, do marginal e do louco.

 
Porque os loucos também sofrem.

Tereza Du\'Zai
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