Recordando meu tempo de criança
vislumbrei a morada do passado
Dois andares do jeito de sobrado
era assim que estava na lembrança
Mas o tempo incessante que avança
tudo abarca fazendo alteração
Um incêndio em nossa construção
fez de tudo rescaldo de queimado
só ficando pra nós como legado
o batente de pau do casarão
A família ainda se recorda
do sobrado já sendo construído
Começando no piso foi erguido
com telhado subindo pela borda
Nostalgia é algo que transborda
em conversas de uma reunião
Foi aí que alguém já fez menção
que no dia da casa ser pintada
recebeu a primeira pincelada
o batente de pau do casarão
Nosso pai delegou a uma filha
contratar o carreto da mudança
Eu ainda mantenho na lembrança
a viagem que fez toda família
No momento de ver nossa mobília
já descendo do grande caminhão
um roupeiro que nessa ocasião
precisava de três pra carregar
deu trabalho na hora de passar
no batente de pau do casarão
As visitas que a gente recebia
desfrutavam da nossa acolhida
e na hora de dar a despedida
prometiam voltar em outro dia
Mas na porta da nossa moradia
nosso pai como bom anfitrião
ao depois de fazer a saudação
sempre com um abraço apertado
esticava a conversa escorado
no batente de pau do casarão
Não se pode fazer o inventário
de quem já circulou em uma casa
A saudade que vem e extravasa
não aceita uma data em calendário
Se na casa não tinha algum horário
com frequência de grande multidão
o sobrado virava num saguão
se a mãe para festa convidava
Era toda família que passava
no batente de pau do casarão
Pra memória das gerações futuras
levantamos sublimes monumentos
festejando na pompa dos eventos
os acervos de grandes esculturas
Galerias repletas de pinturas
ou espólios comprados em leilão
Mas sem ter o prestígio e projeção
dos tesouros que a isso se agrega
nosso afeto ainda se apega
num batente de pau do casarão
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