Eu poderia pegar a água, o carro, o momento
fazer a dor virar um odor sutil,
transformar o presságio em um devaneio sem tormento,
colocar o medo em um capacete infantil.
Eu poderia consertar a estrada,
parar o transbordar da ferida,
pintar de amarelo claro a beirada,
daquilo que chamamos de vida.
Eu poderia me trancar em uma sala vazia,
enlouquecer-me no silêncio das cores,
arrancar do peito o sentimento de azia,
esconder com a sombra do rosto, as dores.
Eu poderia fazer do desgosto,
esse aroma adocicado ao suar,
que a mim só serve de encosto,
virar o movimento do mar.
Ai! Como poderia assim contente,
mas como posso eu poder,
se nem poderia ter o poder,
de colocar o verbo no presente.
Calu
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