Finitude pretensiosa

Orgias privadas de terno e gravata

Orgasmos forçados de puro poder

Ogivas secretas detonam com ódio

Crianças com medo da morte se escondem no ópio ‘’Arbeit macht frei’’ se estampam nos campos

‘’O trabalho liberta’’ acredita o tolo

O enlatado garimpo serve de consolo

 

 

Edifícios brilhantes no lugar do sol

Progresso de poucos sufoca os ares

Que os líderes salvam com aerosol

No cemitério de vivos nossa existência é suicidada

O legado da vida é um mero epitáfio

Os corvos gorjeiam tanto lá como cá

Das ruínas de nosso reino, assim na Terra como no céu

 

 

Falsidade mesquinha de homens cordiais

Que doam seu sangue gratuitamente nos telejornais

Nossos suores diários selam o acordo

Sem ver a cor do decreto secreto de nossa dor

O comprador acordou com a conta cheia

O outdoor anuncia os planos do novo governo

Que o morador festeja sem poder pagar

 

 

Vamos aplaudir a riqueza dos poucos

Dizem ser a salvação da miséria dos muitos

Por sonhos longínquos trocamos espelhos

Que refletem a realidade, que cegos desejamos ver

Vários rostos tão indispostos

Para satisfazerem o alheio prazer

Só não perguntem de quem

Quem somos nós? Qual a verdade menos dolorosa para se aceitar?

 

 

Cidadãos de bem depositam seus votos, leiloando o destino da democracia

Os desesperados fazem suas apostas

Em gritos afetuosos de pura apatia

Por meus privilégios, deus, pátria e família

Arquivo o processo e escondo em alqueires de terras

Que consegui com mérito e esforço

Dessas tu terás apenas sete palmos

 

 

Os fins justificam os medos

A pilha de livros afugenta os leigos

A pilha de nervos convulsiona os meigos

Na crise se hipoteca a própria qualidade de vida

Valores se perdem, os preços aumentam

Pulsos se cortam para sarar a dor

Jovens se prendem em suas casas

Carros andam livres pela contramão