Vi a noite que chegou

e a mim se revelou então

Vi a triste e negra noite

clara do artificial

e vestida da ilusão

Vi a noite, vi então

brilho e escuridão

o pequeno e o maioral

dividindo os seus vãos

Vi a noite da lama, do lixo

que nas ruas se escondem

nas sombras de um ninguém

Vi a noite da dor que é mais forte

Em alguém que busca a morte

e na alma ela sempre vem

Vi a noite das luzes acesas

numa enganosa beleza

onde brilham no palco-cidade

que tantos artistas tem

Vi a noite fria e nua

De meninos dormindo na rua

sem carinho e sem pão

Vi a noite de um grande vazio,

Da paz de um silêncio sombrio

como a dor da dura solidão

Vi a noite da ébria orgia

da paixão, da boemia

de uma triste alegria

que adoece o coração

Noite de infeliz ventura

mesmo sendo tão escura

uma luz pode brilhar

Nessas ruas e calçadas

uma paz tão desejada

pode  vir te abrandar

Dará vida ao cansado

Dar amor ao não amado

e ao perdido vir achar

É a luz de um novo dia

É a fiel companhia

É a mais perfeita alegria

Em teu ser quer habitar