Pra que palavras
faladas ou registradas,
guardadas no pensamento,
se deturpam-lhes o significado
matam-lhes a essência
calam-nas na escalada
ensurdecidos ante a carência
de serem bem interpretadas
se em tempo algum serão escutadas?
Pra que palavras
se elas voltam sempre
cabisbaixas, indiferentes
ou nunca retornam
levadas pela contundente ilusão
de uma palavra com lábia
e nem são interpretadas
do jeito que as descreve o coração?
Pra que palavras
se quase todas já foram usadas
em sonhos decadentes
paixões desenfreadas
amores já descrentes
em mundos inconvincentes
e viram estátuas
sem anunciarem o que sentem?
Pra que palavras
se quando delas preciso
se ausentam num espaço conciso
deixando-me só, eu e eu,
num cerco onde me confino
com o vazio de se estar só
a confabular comigo mesmo
o desencantamento
de cada palavra que se perdeu.
Prefiro o silêncio que ainda é meu...
_Carmen Lúcia_
Licença
Sob licença creative commons
Você pode distribuir este poema, desde que:
- Atribua créditos ao seu autor
- Não crie obras derivadas dele