Era uma vez um garoto burguês
Que de tanto pensar ficou louco de vez.
Sua casa era grande e a cabeça mais ainda,
Seu coração era gelado e sua mente era linda
Eis que um dia saíra de casa
Para saber se a vida era mesmo tão rasa
E encontrara um senhor de cabelos brancos
De dentes feios, maltrapilho e um cavalo manco.
“Qual é o sentido da vida?”
Perguntara o garoto de cabeça erguida.
Estupefato por um instante, o senhor reclinou-se
E antes da resposta pensou em oferecer-lhe um doce.
“Sente-se, guri, tome esta bala,
Prometo que não lhe levará à sua vala.”
O menino obedecera ao senhor de prontidão,
Sua curiosidade era tanta que a tomara de supetão.
“Ora, veja bem”
Dissera o senhor com desdém.
“Não há sentido à vida, pobre criança.
Nunca haverá fim para esta nossa andança.”
“Mas o que fazemos aqui?
Se não há fim, como ainda não morri?”
Insistira de novo o menino curioso, perplexo.
Seria a vida um ente misterioso, deveras complexo?
“Fazes aqui o que farias morto:
Iludir-se-ia com este mundo torto,
Cheio de mentiras que chamam realidade.
Tu não te aborreças com minha tamanha sinceridade.”
“Mas há um sentido, senhor,
Pois na vida sentimos a força do amor.”
“Este amor só existe porque nós existimos,
E se o mundo é mentira, apenas o é porque o sentimos.”
“Entenda, meu pequeno:
Nem a simples verdade nós temos.
Como compreenderíamos o que a vida brada
Se do mundo nem o simples, não entendemos nada?”
O menino se entristecera.
A esperança se fora, a cor esmaecera.
Mas, ao tomar o caminho que à sua casa conduz,
Ainda cabisbaixo, perto do senhor, viera-lhe uma luz.
“A vida não precisa de objetivo,
Não é isso o que nos mantém vivos!
Porém, todos nós queremos ser felizes
Ainda que não seja este o fim, queremos ao menos ser felizes!”
O senhor o olhara com um sorriso e tanto,
Piscara-lhe o olho e seguira contente em seu cavalo manco.
© Todos os direitos reservados