Meu mar secou,
As ondas sumiram,
A areia mudou de cor,
O vento sopra inverso...
Procuro pelas gaivotas
Num céu híbrido, incolor...
Escuto músicas sem notas,
São as palavras dos meus versos...
Deito o olhar sobre as nuvens,
Mas estão vazias, sem gotas d’água...
As árvores estão desnudas, só penugens
Então perambulo por caminhos incertos...
O sol quase se apaga... vejo sombras
Onde bronzeio o pensamento que chora
Pelo alimento que desce por sondas
Perante vidas que veem a morte de perto...
Sou vulto que anda sobre cascalhos
Ferindo os pés, mas sem sentir dor...
Existências camufladas em atalhos
Em becos que são enigmas perpétuos...
Pranteio na solidão que me desnutre
As vísceras duma saudade que é tenda
Onde dialogo perfume com os abutres
E durmo encaracolado em meu deserto...
Afinal a água romanceia o infinito
E meu mar ressurge bravio e límpido...
Na nova areia a espuma é o pito
Que estoura quando do sonho desperto!
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