A Todos que não amam a vida

 

Nós nasceremos destinados a morrer.

Nós nadaremos p'ra morrer na praia.

E tudo supurará no apodrecer

De um fruto jogado do topo de um atalaia.

 

Anos vãos de interminável espera,

E derruindo com veneno impuro;

Ser comido p'la formidável quimera,

Apodrecer sem nunca ter sido maduro...

 

Rasgar as entranhas da terra

Como se indiferentemente se rasga um papel.

Murchar como o espectro que erra

No ermo entre o inferno e o céu...

 

Sempre passar do plantio

Por ser inútil semente:

Erva daninha dum sinistro estio,

Cacto com peçonha de serpente...

 

A calmaria que antecede a tormenta,

Ilude, aliena e engana.

Tudo morrerá diante dum enigma que atormenta,

Em nada é gigante a raça humana...

 

Ser um alimentador de vermes,

A rubra maçã sem glória.

E cegos, surdos, loucos e inermes

Nem sermos lembrados nas páginas da história!

 

Somos já fetos agonizantes,

Vinhos da cólera de podres uvas.

Medrosos com tramas sussurrantes,

Mãos que não entram em quaisquer luvas...

 

O uivo apocalíptico das células do nada

Clama p'la bruma que ocultará a humanidade eleita.

A foice ceifará os campos letal como a espada;

E quando chegar o tempo da colheita:

 

Nós nasceremos destinados a morrer.

Nós nadaremos p'ra morrer na praia.

E tudo supurará no apodrecer

De um fruto jogado do topo de um atalaia...