Meus passos não são mais tão pesados, parece que flutuo sobre a terra.
Minhas pegadas não passam de leves marcas deixadas sobre o chão avermelhado.
Minha vista não se ofusca mais, enxergo tudo muito claramente, sem nenhuma sombra tentando me impedir.
A brisa é úmida, e não seca e dolorosa como antes.
Ao longe, picos se encobrem da mais branca e singela neve,
deixando de ser apenas amontoados de calcário.
Os olhos do céu não choram mais,
estão limpos como grandes e cintilantes turquesas.
As flores são das cores mais nobres que já vi,
o vermelho mais profundo, o violeta mais puro.
E ao longe brilha uma luz, pequena o delicada,
mas antes que chegue até ela, percebo o chão com um longo e espesso cobertor branco.
Provavelmente acabara de sair de um longo e tenebroso inverno.
Insultos e ameaças não me afetam mais.
Na verdade, agora nem sei o que pode me afetar.
Por mais que pareça algo perigoso, é melhor do que a realidade.
Uma realidade, que a partir de agora, não sei mais distinguir.
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