HOMENAGEM ÀS BORBOLETAS

 
Borboleta andante que a flor devora
Beija-as com tanto carinho que me enternece
Por acaso já foste flor de um jardim outrora?
Ou tens a incumbência de cuidar da flora
 
Tens porte de musa da primavera
Voejas e sugas o doce néctar da flor
No lago ou na Ipueira vives solitária
Só as belas flores dás o teu amor
 
Em tua fecundez renovas a tua espécie
Na metamorfose gozas duas vidas
És linda pura faceira e singular
Foste a pincel pintada e colorida
 
Quão gracioso é o teu bailar
Teus gestos demonstram inocência santa
Mal nenhum a ninguém causastes
Apenas colhes a doçura das plantas
 
Como invejo o teu viver tão puro
A voar por sobre a flor do horto
Sem pretensões maldosas vives
Fazendo dos jardins teu porto
 
Tens por acaso o mesmo Deus que eu
Que vivo no pecado na dor e na aflição
Ensina-me a ser mais pura e calma
Faz em meu ser uma transformação
 
Tua inocência aos anjos se compara
Que voam no espaço pra fazer o bem
Pra onde levas da flor tanta doçura
Na incansável luta do teu vai e vem?
 
Tens uma missão a qual não sei?
Borboleta amiga venha até a mim
Conte-me aonde vais voando...
Levando pra alguém a flor do meu jardim?
 
Cuidas de um vivente que no leito sofre
Do outro lado da vida, lá do além?
E em teu seio levas este doce orvalho
Com o propósito de fazer o bem?
 
Mudes meu viver traga-me um amor!
Tires do meu peito esta solidão!
Voe o mundo inteiro faça este favor!
Roube para mim o gênio que criou a flor
 
Se uma borboleta eu pudesse ser
Escolheria a cor verde e amarela
Seria uma borboleta brasileira
Pintada igual a uma aquarela
 
Voejava pelo mundo afora
E colheria a mais linda flor
Viajaria a longa distância
E a levaria para o deus do amor
 
Porém duas coisas me faltam:
Não tenho azas nem tão pouco amor
Sou simplesmente uma poetisa
Que cria versos espantando a dor
 
Cada um se arruma da forma que pode
O violeiro toca no rancho uma canção dolente
Quando se vê saudoso  e desarmado
Eu na rima expresso o que meu peito sente
 
Faço parte de um grupo solitário
Olho pras flores e vejo as borboletas
Procuro imitar com respeito o seu fadário
Criando versos em forma de facetas
 
Sejam minhas amigas e não temas
Pois mal nenhum eu os farei
Apenas pretendo ser feliz como vocês
Pois como humana de tudo me cansei...

MARIA AGLAIDE NEVES
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