A PESCARIA-(conto-parte I)-


 

A Pescaria- parte I -
 
Quase cinco horas da manhã, tum tum tum, Jaiiiir acorda, Jaiiiir, acorda dorminhoco. Era o Tunico batendo na porta do casebre de madeira que ficava no arrabalde da pequena vila de pescadores da Estância Santa Gertrudes. Ele e o Jair tinham combinado a pescaria na noite anterior quando tomavam cachaça no bar do “Seu” Pórfiro. O trato era de sair bem cedinho pra chegar primeiro na Lagoa dos Gansos, que ficava a uma distancia de quatro quilômetros dali. O local era muito concorrido e principalmente naquele feriado que se promoveria um concurso de pescadores. Jair esfregou os olhos embaçados, espreguiçou e ainda zonzo pelo efeito da bebedeira conseguiu abrir um deles e resmungou algo sem compreensão para o Tunico que novamente bateu na porta do barraco para que o companheiro se levantasse. Finalmente o Jair levantou-se, cambaleando, ainda pronunciando coisas desconexas, abriu a porta para o Tunico que já estava impaciente e entrou “xingando”. Pô meu, faz meia hora que eu tô ti chamando e você não acorda, desse jeito não vamos conseguir um bom lugar pra pescar. Calma, disse o Jair, essa foi a primeira palavra de todas que ele havia dito que o Tunico compreendeu, vou fazer um café rapidinho e a gente já vai. E assim foi, tomaram o café, eram amigos de longa data, inseparáveis, moravam naquele vilarejo desde que nasceram, tinham a mesma idade, trabalhavam juntos, Tunico era o pedreiro e Jair, o servente. Muito queridos na região que para eles era um verdadeiro paraíso, alem de bons amigos gostavam também de contar piadas e as tradicionais mentiras de pescador. Tudo arrumado, lá foram eles, cantarolando ainda na penumbra da madrugada que começava a se dissipar com os primeiros raios solares daquele feriado de primavera. Tunico, disse o Jair, hoje eu vou pegar um peixe tão grande que a lagoa vai secar. As escamas eu vendo pra fabrica de asas deltas, as barbatanas para a indústria de ventiladores e a carcaça eu vou mandar salgar, uso a boca do “danado’ como porta e pronto, fico morando dentro dele e quando tiver fome eu tiro umas lascas da parede e frito, falava isso e caia na gargalhada. O Tunico não podia perder a “disputa”, pescador é assim, e já emendou o “troco” pro Jair. Jair, eu vou te pedir um favor, se você pegar esse peixe que está falando, pela nossa amizade, gostaria que o soltasse, sabe por quê? lembra o ano passado, quando participamos do festival de pesca, aqueles lambarizinhos que levamos de isca e sobraram da pescaria, esqueci-me de solta-los então pra que não morressem improvisei um aquário e comecei a tratar deles com uma mistura caseira que inventei dos restos da ração dos cachorros. Os danadinhos gostaram tanto da ração que começaram a crescer, mas um deles cresceu tanto que escapou do aquário e saiu correndo com dois sacos da mistura que eu tinha preparado e foi em direção à Lagoa dos Gansos, mergulhou, e como já faz quase um ano, eu acho que ele cresceu um pouquinho, até batizei ele com o nome de Rex, e era de estimação, fiquei muito triste quando ele fugiu lá de casa. Nossa Tunico, como você é mentiroso ein, e caíram na gargalhada novamente. Apertaram os passos, pois o dia já se apresentara majestoso e propicio para a esperada pescaria e ainda faltavam uns dois quilômetros para chegarem ao local. 

fim da primeira parte... 

 

 

 


 


 

 
 

Pedrinho Poeta - Pitangueiras-SP-
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