'O negrume enquanto brincamos'

O tempo é e luzente do calor artificial, que aquece a natureza que finge ser outra época. Sentem-se quentes e confortáveis. Recondicionando seus hábitos. A terra não espera mais a chuva e o sol tão pouco diz.
A necessidade de preservar sua vida é algo místico: o que cabe a todos é abebedar suas mesquices e ninharias: resignação do medo.
A mesma epidemia devora todos os seres vivos e não vivos. O tempo não é eterno.
Não se segue mais a consciência da natureza e sua perfeição. O caos engolidos algures em nossas mentes: só nos atrai notar a natureza em perpétuo cio. O uso exaustivo do corpo, alma e moral. Tão sangrento quanto atroz.
O tempo é voraz. Ninguém sonha, não resta tempo para criar, dormir: tudo que precisa-se está vivo, anda e alegra. Quem sonha é o inocente que a idade ainda é erma de consciência. Os conscientes já não sonham. Perambulam esvaziando precocimente sua mocidade. Devoram-se em negrumes das madrugadas como morcegos na noite sem pai, mãe e sem antiderrapantes.
O alvorecer envolve almas em paragens obrigatórias de ânimos e irreverências.
Os insones receando hábitos que devem fingir. Mentes inteligentes remoendo sortilegios.
Os sinos das catedrais tocam e ecoam insonoras como se fossem cegas e mudas, que não vissem ou não podessem falar. Ecoam insípidas como se de noite cegassem-se. Todas padecem da mesma epidemia. Jazem seus ideias a paredes de aço; torpes e cruas com obras maiores por se dedicarem? Como se o gelo podesse gerar. Só aos domingos como se a insanidade fosse esperar. Como se meia dúzia de narrações eloquentes fossem dissolver o fel glacial.
Nesse tropel extensivo aos exagues abriu-se a flôr mas no escuro. A fealdade de seu anseio a veste disnuda com trapos ultrajantes. O cenário, que deveria ser explêndido e belo, cobre o céu cinza e a luz sucumbe-se no negrume. Agora a canção é outra, o grito é o outro e o sentimento é outro - mais escuro e tenebroso.
A flôr brotou e primavera não chegou.
Umas gotas de sangue e outras de lágrimas; uns gemidos de prazer e outros de dor, de a curiosidade e de outra dor. O pio frio de sua virginidade rompe e cede. A pálida claridade dispõe-se ao crepúsculo: está feliz e invejada, descobriu alguma serventia inútil e sorrí.
O que ela senti com tudo? Sabemos e não queremos ouvir. Então há uma falha, uma racha permeando líquidos viscosos e venenosos e extendem-se, alargam-se e contagiam. Os ouvidos vazados temem que se espalhe mas calam ou fingem mudos. Agora os alicerces firmam ilusões miniciosos, aranhaceus de areia.

E a flor na fecha-se para voltar na primavera. Se irradia sobre o inconsciente, luzindo sobre a dor. E eu a quero tomar também, eu também a quero sim.

Oh Luz de vênus, a primavera não verás. Suas pétalas caem uma a uma com dos e sangram pela primavera que não verás com as outras flores, sangra pela consciência aludida e incompreendida e sangra ainda mais porque não sabe porque sangra e mais por mais por outras feridas que desconheço. Envelheci jaz pálida, disforme e sorrindo; não dará frutos nem alegrias. Só usura de uma mocidade em vão.

Sentindo a usura desgastante da vida e gritando por aí para não ser percebida; ingerindo vômitos de ontem para pacificar a fome e morrer sorrindo.
Narcóticos para dar menos tempo para sofrer são o elixir dos deuses.

Num estranho quarto o frio de seu corpo avisou-nos e rompeu o silêncio, o cheiro rompeu. Sua sombra pousa funesta no medo de Hoje a flor não acordar neste mundo.