O homem de duas faces

Aonde o homem de duas faces vai?
Carrega-a à força, mas com sutileza
Eu queria saber para onde ela vai
Arrastada pela confusão que geram
As duas personalidades de um mesmo homem

Ela está sorrindo
Tão bela quanto na última noite
Que a vi de perto, minutos antes
De o homem de duas faces aparecer
Afastando dela o mundo e o resto

Ele tem o poder de dar-lhe todas as flores
Abrir os caminhos impossíveis
Satisfazer todos os seus desejos
Mantendo distante todos que cruzem seu caminho
O homem de duas faces não tem adversários

Sentado na mesa do bar, eu a observo
Com o olhar perdido na vitrine
Assobiando, concentrado, alguma coisa
Ele não percebe que a olho
Que decifro seu perfume

Eu a amo e por isso me arrisco
Se um dia o homem de duas faces me notar
Será este o meu último dia de vida
Eu continuo disfarçado pelas sombras
No breu de seus pensamentos onipresentes

Depois do dia em que o homem de duas faces
Olhou-me nos olhos, com o olhar decidido
A destruir aquele que deixou flores amarelas
Enquanto ela foi ao toalete
Eu não tenho medo de mais nada

Ainda posso sentir os arrepios correndo meu corpo
Ainda vejo a cena do homem de duas faces
Destruindo todo o teatro e cercando todos
Que tentavam sair do recinto às pressas
Com seus gritos de pavor e medo

Eu a vejo todos os dias
Da janela de meu apartamento
Duas vezes: quando sai
Levada pelo homem de duas faces
E quando retorna, trazida por ele

Há dias em que na caixa de correio
Ela se surpreende com flores amarelas
Às vezes, ela demora a abrir a caixa
E encontra apenas algumas pétalas
Do meu quarto posso ver seus olhos trêmulos

Eu me pergunto sempre se ela é feliz
Se o amor que sente pelo homem de duas faces
É livre como o meu amor por ela
Se o poder dele domina também
O coração dela

Um dia, se eu tiver coragem
Eu entrego-lhe as flores amarelas pessoalmente
E vejo se seus olhos tremem realmente
Será o fim ou início de minha vida?
Eu prefiro acreditar que depende só dela