nu de mim

dispo a alma

das palavras que ainda me restam

vestidas de esperança

dispo o peito do silencio

que verto na saudade

das lágrimas que arremesso

nas nuvens que leva o vento

da minha ansiedade

 

nu de mim

despido de sentido

cubro a minha solidão

escondo a vergonha amordaçada

a essência que se oculta

por entre os sonhos orfãos

do meu querer

levo o regaço de retalhos cheio

de trapos e preconceitos

com que vestiram meu peito

ilusões que me ofereceram

enquanto esperava as manhãs nascerem

por entre um sol insipido

e distante do meu abraço

 

nu de mim

já não escutava sequer

o eco dos meus passos

não sabia o nome dos caminhos

por onde enveredei e me perdi

de amores

nas encruzilhadas do destino

 

nu de mim

não serei mais

um simples barco á deriva

num oceano de melancolia

não me esconderei cobarde

das investidas da nostalgia

 

nu de mim talvez

jamais nu de vontade

Simão
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