Chá aos fantasmas

Como ventania desordenada,
aportou-se desenfreada
ante ao meu império de certezas.
Varreu-me as ruas tuas levezas,
alçou-me às alturas tuas loucuras.
Abriu-me as dimensões de humanidade,
aflorou-me as verdades de outrora.
Hoje, dançam cores no horizonte
como fonte de esperança aos meus olhos.
A canção inculta na alma agora é fato,
trato apenas de abafa-la ao mundo
mas não dentro de mim.
Vivo assim, gravitando em anseios,
ponderando meios de vê-lo sempre
em sonhos, nuvens, pensamentos.
E os tais estranhamentos não incomodam mais.
Jamais julguei-me capaz de sentir,
admitir a fúria dos sentimentos,
a revolta das vozes em minha cabeça.
Mereça eu ouvi-las em censura,
a candura de tua face
transmuta toda a celeuma em afago,
em verbo leve e sereno.
Tudo se acalma em meu universo,
no mais, porque não dizer em verso,
em prosa toda a polvorosa em que me encontro.
Que me resta agora senão rearranjar,
senhorear a anarquia instaurada nos cômodos d'alma
e com calma, servir chá aos fantasmas.
Rir com eles de minha própria tolice.
Explanar-lhes toda a precariedade de entendimento
para com a fome, seca e nós mesmos.
Como sofremos pelo mal que não temos!
Custo a crer e tornar a dizer:
Esses lençóis que passeiam voadores
ainda me são os melhores entendedores.

São Paulo

Felix Ventura
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