O DIA EM QUE BATI NO FILHO DO GOVERNADOR E VIREI HERÓI

O DIA EM QUE BATI NO FILHO DO GOVERNADOR E VIREI HERÓI

Minha família veio morar em Curitiba quando eu tinha dez anos de idade, proveniente da cidade de Itajaí, de Santa Catarina.

Lá, na terrinha, há duas fronteiras culturais chamadas popularmente de Serra baixo e Serra acima.
Nós éramos de Serra abaixo, litoral, região mais colonizada por, entre outros, de Açorianos, oriundos, claro, da Ilha dos Açores, pertencente a Portugal.

Quem é natural desta região tem um sotaque muito característico e próprio, usando muito a segunda pessoa, tipo: Tu viste? Tu deste uma espiada?

Por isso dizem, zombeteiramente, que a revista ‘Veja’, lá, é chamada de ‘Espia’.

E por isto, também, existem outras gozações como:
Fichas de telefone? Diziam que elas eram chamadas de pastilhas de prosa.
Carne moída? Boi ralado.
Helicóptero? Avião de rosca.

E por aí adiante.

E o sotaque é bem cantado, tem uma sonoridade toda característica, que os habitantes de serra acima, felizardos, não possuem, não é Helena?

Hoje em dia com este intercâmbio permanente que existe entre as regiões isto é visto como natural, mas na época que viemos para cá foi barra pesada agüentar a gozação.

Eu estava com dez anos de idade, já era tímido por natureza; vim de uma cidade bem menor onde morava num bairro e, em Curitiba, fomos morar bem no centro, cheios de arranha céus, como chamávamos, na época, os prédios com mais andares.

Eu fiquei aturdido nesta cidade, olhando para cima. Era cheia de veículos, buzinas para lá e para cá. Asfalto, quando lá, só tinha paralelepípedos.
Foi um auê na minha cabeça.

Bom, me matricularam num colégio particular para terminar a quarta série do chamado, na época, primário, que equivale hoje à quarta do primeiro grau.
A gozação foi geral.

Era, oh Catarina para cá e oh Catarina, para lá, direto.

Tu viste? Aahahahahah.
Não era fácil de agüentar, além de todo assustado, ainda tinha mais esta.

Ainda bem que neste colégio eu só estudei o último trimestre daquele ano, pois além de tudo, só dava boyzinho.

Aí fui para o quinto ano, não sei o porquê, pois existia também a possibilidade de fazer o chamado ‘exame de admissão’, uma espécie de vestibular, que passando você ia direto para o primeiro ano do ginasial, equivalente aos quatro últimos anos, hoje, do primeiro grau. Mas deve ter sido por causa da viagem.

Para fazer este quinto ano, fui matriculado num ‘grupo escolar, (hoje ensino fundamental) público, mas que tinha certa história no passado; como Jânio Quadros ter estudado lá, (não me perguntem o que ele andou fazendo por alí) e outras.

Era tradicional e naquela época os colégios públicos, com raras exceções, eram melhores que os privados.

E lá foi este ‘Catarina’ para o matadouro.

O colégio tinha um método em que os melhores alunos do ano anterior freqüentavam da primeira carteira da primeira fila do lado direito e assim sucessivamente, a segunda colocada, a terceira e ia. Como eu vim de outro colégio, me colocaram na última carteira da última fila do lado esquerdo, no meio dos meliantes, onde a gozação não era tanta, mas eu não tinha afinidade.

E a loirinha lá na frente, na primeira fila do lado direito rss... O primeiro amor platônico. Uma ‘peça’ inalcançável, (a primeira de tantas rss) para mim, lá naquela longínqua primeira carteira da primeira fila.

E dê-lhe gozação. No recreio só sobrava para mim, afinal estava numa região de ‘inimigos’, que queriam mais era me‘zoar’, e não fazer amizade comigo.

Lá naquela última carteira eu só era rodeado dos chamados ‘malandro agulha’, (malandro ao contrário) e aí vieram as primeiras provas e o ‘vosso amigo aqui’, que não tinha mais o que fazer nesta cidade, a não ser estudar, fui parar lá na última carteira da primeira fila, onde na primeira carteira ficava a bela e formosa donzela, ainda inacessível. 
Afinal quem era eu?
Um 'relés Catarina’, por onde os olhos dela não passavam.

Mas a morena da última carteira da segunda fila, minha vizinha neste caso (não vão perdendo a conta), uma ‘peça’ mais despojada, vivia me dando em cima, mas a gozação geral não me permitia vôos mais elevados, ate que um dia....

Tantantamm!

Estudava no 'colégio' (vamos atualizar os termos) o filho de um ex governador, que sentava lá primeira carteira da segunda fila, ou seja, uma posição atrás, na realidade, da minha, mas que, estratégicamente, ficava na primeira da segunda fila e era, então, vizinho da minha doce donzela e que só tinha olhos para ela também.

Ah ciúme danado e‘Catarina, acuado não podia fazer nada’.

Onde já se viu querer namorar a menina dos olhos das professoras, inalcançável com suas notas dez, pelos outros mortais? E ainda competir com o filho do ex governador?

Mas chegou o dia em que, no recreio, a ‘zoada’ para o meu lado chegou num limite e este filho do governador veio querer forçar a barra numa brincadeira meio pesada que tinha lá e eu, mais por instinto de conservação do que qualquer outra coisa, me sentindo acuado, meti a mão na cara do queridinho das professoras e o mesmo afinou na hora.

E eu de uma hora para outra virei o herói do pedaço, cheio de tapinha nas costas, mas sem entender nada, pois tinha feito aquilo por simples defesa, estava atônito.

De qualquer forma o cara não chegou mais perto de mim e foi para a sala com aquele vermelhão no rosto, e eu passei a ser respeitado por todos, afinal tinha batido no filho do governador, ora.

A loirinha inalcançável começou a até me dar umas olhadinhas, mas oh, esta danada timidez....

Era um obstáculo bem maior que o filho do governador.

‘Não é o lugar em que nos encontramos nem as exterioridades que tornam as pessoas felizes; a felicidade provém do íntimo, daquilo que o ser humano sente dentro de si mesmo’ Roselis Von Sass graal.org.br

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