Coração da Morte

 

A poucas horas do dia dos mortos me encontro na solidão de um cemitério abandonado.

Meu rosto queima debaixo da lua negra que brilha no céu.
Meus olhos procuram por todos os lados as almas perfeitas de todos que se foram.
 
Ah! Que inveja! Antes a mim tivesse levado Sra. Morte!
 
Meus dias frios sopram para lugar algum dentro deste mundo, desta vida.
 
Meu coração gelado guarda em si alguém já condenado a morrer.
 
Que nunca morre. Que nunca morrerá.
 
Arranca de mim esta dor, desgraçada que leva daqui todos meus amores!
 
Arranca de uma vez por todas a única coisa que me permite continuar.
 
Em um cemitério sombrio a paz me embebeda e me faz sonhar, meus olhos sonham com os desastres que causei em tudo que já fiz, minha boca chama por teu nome na escuridão da noite sofrida.
 
Estou cega, estou morta!
 
O anjo negro paira ao meu redor, sorri devagarzinho para não me assustar.
 
Eu não tenho medo, já sei que morri.
 
A morte não é difícil. É doce. Incrivelmente tranqüila.
 
Bebe meu sangue até a última gota, ri da minha desgraça e das minhas fraquezas.
 
Fui ao menos bem recebida.
 
Encontro você no túmulo negro deserto. Vê como todos conversam?
 
Esquecida. Fui esquecida?
 
Minhas mãos correm ao teu encontro.
 
Oh! Esqueci-me. Você tem coração de pedra.
 
E meu coração é feito de gelo. Teu calor não pode mais me afagar!
 
A poucas horas do dia dos mortos sua alma me embala em uma viagem sem fim pelo Vale da Morte.
 
Quero beijar sua boca e sentir teu calor. Mas tu estás tão frio, tão distante.
 
Como sempre foi, meu amor.
 
Celebrarei teu dia na qualidade que mereces por ter me abandonado.
 
Velarei da maneira silenciosa como sempre me velou aos pés da minha cama, sentirá minha dor como nunca foi capaz de sentir, sentirá meu desejo arder na tua face já morta e fria.
 
Levarei meus sonhos ao teu túmulo.
 
Lembrarás de mim em tua ultima morada.
 
Faltam poucas horas para a noite subir alta.
 
Poucas horas para te ver. Para morrer.

*Anelise Lena*
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