a dança do algodão

as 16:30 fôra aceso o incenso
no canto da sala
revestida de arte decó
e cores púrpuras de ópio
pouco depois
seu corpo exaltava a via crucis
como pomba gira sem norte
ou exu na contra-mão
ali, como num teatro
nasciam seus demônios em segredo
e morreriam depois
de jugulares abertas
o chão sumira
sob a sola suja dos teus pés
que apontavam todas as direções
como um carrossel
a boca da noite se abriu
faminta sobre tua cabeça
trazendo a lua consigo
minguando espreitada na janela
... a morte nunca morre as seis da tarde.

rogerio santos
© Todos os direitos reservados