ESTAÇÕES

Atrasado trinta e cinco minutos
Sempre chego trinta e cinco minutos antes
Os trilhos atravessam pontes e viadutos
Cada estação e cada lugar, o mesmo semblante
 
Abro mão de qualquer tipo de condução
Gosto do barulho e até do minério de trem
Ando do primeiro ao último vagão
Tem farofa, gente bonita... feia também
 
O itinerário é de trinta paradas
Trezentas vezes pensei em voltar
Muito mais da plataforma me lançar
Minhas viagens eram melhores
Quando você sentava ao meu lado
Apontava pela janela, me mostrava
As vacas, a roça inteira
Falava desses banheiros ridículos
Dos trens, mas a gente ria daquilo
Era tão bom
E você não invadia minhas poesias...
E você não as estragava
 
Você era mais educada
Respeitava meus pensamentos
Não os invadia e escravizava
Eu era mais feliz, mais inspirado
Mais romântico, engraçado
 
Cheguei aqui. Estação Pedro Nolasco
Sei que devo recomeçar minha vida
Vejo em cada semblante, muito cansaço
Merda! Não consigo aceitar esta despedida
Ou esta chegada, não sei
 
Nem de trem eu ando
Nem à farofa sou chegado
Mas que ta doendo, ta demais...
Sua presença, sim é real em mim
Caramba, como eu te amo.