Existem três tipos de beleza:
A sólida, a liquida e a gasosa.
Qual das três será a mais bela princesa?
Qual das três será no fundo mais formosa?

A gasosa ! Lá vai ela,
Tão airosa, tão na dela,
Tão vaidosa, orgulhosa e convencida!
Vai cheirosa, perfumada,
Desfilando empertigada,
Olhando o corpo pelas montras da avenida!

Se eu fosse a montra lhe dizia,
Como é feia essa mania,
De ir passando todo o dia
A se autoelogiar.
Se eu fosse a montra me partia
E cortava essa vadia
Só para ver se ela viria
Se exibir a coxear!

(Com franqueza este tipo de beleza
não é digno sequer de se cantar!)

E atrás lá vem a outra
Com um rapaz, de água na boca
Vem beijando o jovem desconhecido!
Ele diz de perto ao seu ouvido,
"Como é belo o seu umbigo",
E ela "vem-se", vem se rindo que nem louca!

Se eu fosse o jovem lhe trincava
O pescoço e lhe mostrava
Como é feio ser-se escrava
De um corpo de ocasião!
Se eu fosse o jovem lhe gritava
Ao ouvido o quanto é parva
Só para ver se ela ficava
A rir-se da situação!

(Com franqueza este tipo de beleza,
não é digno sequer de uma canção!)

Mas olha quem vem desolada
Do outro lado da estrada,
É a sólida e a amiga solidão!
Vem com ela enamorada,
Olhando as pedras da calçada,
Consolando-a com uma triste canção:

Se eu fosse bela e atraente,
Bem disposta e sorridente,
Viveria alegremente
E teria felicidade!
E sendo bela queriria
Ser mais bela e mais ainda,
Sempre bela noite e dia,
A mais bela da cidade!
E quem sabe a mais amada,
A mais querida e desejada,
A mais linda e cortejada
Mulher da humanidade! (Mas...)
Estaria escrava da beleza!
Ajoelhada aos pés da presa!
Já sentido a certeza
De ser feia na verdade!

(Porque a beleza, seja dito com franqueza,
é um estado de esprírito e não uma qualidade!)