Aos Tolos.
O que fiz foi engolir um generoso punhado de navalhas
Esperando cortar, sanguissedento, meus desafetos.
No fim, o dano se refletiu em mim e inúmeros insetos
Perambulam nas feridas do fracasso de minhas batalhas...
Quem fui eu para tentar estar acima de emoções,
As quais, mesmo em seus teores negativos, eram supremas?
E ignorei a razão, ou superestimei demais seus temas
Em ilógicas coerências... Consumido por ânsias e confusões...
Nem consegui formular a cláusula que me motiva!
Eu fui acumulando a cólera crescente como um colecionador
E nem me dei conta que tanta raiva foi afogando o amor:
Pelos outros e por mim mesmo, como uma chama viva!
E nas fantasias de fúria, aniquilação e imenso dano,
Meus sonhos receberam crostas virulentas de pesadelos:
Eu não corria livre, era puxado brutalmente pelos cabelos
Tal qual um farrapo risível e ignaro do que é um ser humano!
O que ganhei após pisotear, chutar e arrancar as ervas
De uma floresta milenar a qual produz ainda vívidas árvores?
Inútil! Foi uma piada contra mim mesmo, assinada em mármores
Para ficar no esquecimento, como trivialidade que a ti enervas?
Enervas... Fonte infinita desta magna raiva
Que não me levou, nem ontem e tampouco hoje, a lugar algum...
Eu me desfigurei olhando o mundo inimigo, ele me achava comum
E, indiferente, foi me empurrando ao sombrio mar, feito uma laiva...
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